O Tutor (parte 1)

FUNDAMENTOS DA TUTORIA

Durante muito tempo o papel do professor ficou limitado no contexto da EaD, uma vez que a tecnologia e as metodologias didáticas disponíveis não viabilizavam a comunicação satisfatória com seus alunos, ao longo do processo educacional. O contato entre professor e alunos realizava-se através dos materiais didáticos e da avaliação da aprendizagem, ao final do curso. Hoje essa visão vem se modificando. A ampla atuação do professor, em nosso contexto denominado “tutor” ou “professor-tutor”, tem importância básica para a EaD. Daí a relevância de se investir na formação de tutores, preparando-os para exercerem seu trabalho com boa fundamentação teórica.
De maneira geral, o tutor é o responsável por mediar o currículo, os interesses e as necessidades dos estudantes no processo de ensino-aprendizagem. É seu papel favorecer um acompanhamento satisfatório dos conteúdos das aulas pelos alunos, além de incentivar uma comunicação ampla entre ele e os alunos e dos alunos entre si. Algumas vezes trabalha também na produção dos materiais didáticos, mas sempre de forma colaborativa e interdisciplinar.

PRINCIPAIS ATRIBUIÇÕES E DESAFIOS DA AÇÃO TUTORIAL:

COMUNICAÇÃO ALUNO - TUTOR

Um dos desafios da ação tutorial é a forma como é feito o contato aluno-tutor. Na maioria das vezes, a comunicação se dá através da tecnologia (aulas à distância, mensagens, chat etc.). Assim, para saber se o estudante está acompanhando o curso satisfatoriamente, o tutor precisará ter iniciativa para comunicar-se com ele usando os recursos à sua disposição. Neste caso, é preciso ter sensibilidade para entender os diferentes estilos de aprendizagem que emergem em um curso a distância. Alguns estudantes tomam a iniciativa de contatar o tutor e os outros colegas; outros aguardam o incentivo de alguém para se manifestarem. Mas há ainda aqueles que se isolam completamente das discussões, tornando-se facilmente desmotivados. Sabe-se, porém, que a atitude do tutor, na maioria das vezes, pode reverter situações de desistência ou abandono do curso.

AUTONOMIA DOS ALUNOS

O tutor também é desafiado a orientar o processo educacional incentivando a autonomia dos alunos. Ao invés de entregar respostas prontas, deve proporcionar o debate, a troca de conhecimentos e a capacidade de cada aluno construir seus percursos de aprendizagem. Ao contrário do que pensam alguns, o estudante de EaD não deve ser um receptor passivo de conteúdos, precisa desenvolver o senso crítico, a pesquisa e a colaboração entre os pares. É, portanto, papel do tutor construir um ambiente propício ao compartilhamento de idéias, sem preconceitos, no qual os participantes se sintam à vontade para se colocarem e conhecerem argumentos diferentes dos seus.

FUNÇÕES DO TUTOR NA EAD

Belloni (2001) aponta como atividades a serem desenvolvidas pelo tutor:
1. Conceber e criar cursos à distância e seus respectivos materiais didáticos;
2. Planejar a distribuição desses materiais e participar da administração pedagógica do curso (matrícula, avaliação, etc.)
3. Acompanhar o estudante durante o processo de aprendizagem, oferendo-lhe orientação pedagógica.

O sucesso da EaD, na atualidade, não depende do trabalho de apenas uma pessoa ou de um grupo de pessoas isolado. Cada vez mais se trabalha em equipe, com profissionais provenientes de diferentes áreas do conhecimento, os quais, em colaboração, deverão construir o programa educacional. E o tutor é um desses profissionais que se engaja no desenvolvimento das atividades anteriormente citadas.
No que diz respeito à distribuição de materiais e gerenciamento de cursos, na maioria das vezes é necessário uma equipe técnica especializada para colaborar com seu trabalho de tutoria, apoiando-o no manuseio das ferramentas apropriadas. Nesse contexto, o tutor precisará saber como dar encaminhamento a dúvidas de natureza técnica, sejam aquelas relacionadas ao uso do computador e da Internet, ou mesmo ao ambiente virtual de aprendizagem. Além disso, deverá ser capaz de esclarecer a respeito das características, finalidades e peculiaridades das ferramentas de interação disponíveis, para que o aluno saiba escolher o recurso de comunicação mais adequado em cada situação vivenciada.
O trabalho de tutoria tem se revelado essencial no desenvolvimento satisfatório de qualquer programa de EaD. Segundo Maia et al (2004), a taxa de evasão em cursos superiores na modalidade a distância chega a 30% no Brasil. Este estudo coletou dados de vinte e duas Instituições de Ensino Superior, destacando como causa para o elevado índice de desistência dos alunos o modelo de ensino e a forma de interação entre eles e os professores. Assim, a ação do tutor é fundamental para garantir a permanência e o bom aproveitamento dos alunos em um curso a distância. As altas taxas de evasão na EaD decorrem também da redução dos contatos pessoais entre o tutor e os estudantes. Trabalhar de modo solitário predispõe os participantes ao desestímulo. Daí a importância do tutor se fazer presente ao longo do curso, atendendo às demandas de seus alunos, promovendo encontros , apoiando-lhes pedagogicamente, sempre que necessário. O processo de orientação pedagógica, além de contínuo, deve envolver todos os participantes. Na maioria das vezes, é papel do tutor desconstruir os mitos oriundos das gerações anteriores da EaD (educação fria, de baixa qualidade etc.), pois o contato freqüente com os alunos fortalece os relacionamentos e constitui um importante fator para a aprendizagem. Ele precisa incentivar a colaboração entre os estudantes, a troca de conhecimentos e o trabalho em equipe. Para tanto, existem ferramentas de interação disponíveis no ambiente virtual de aprendizagem (fórum, mensagem, chat, etc.) que devem ser utilizadas regularmente como elo de comunicação do grupo.

Autor: Prof. Dr. Fernando Lincoln Carneiro Leão Mattos
Colaboradores: Prof. Dr. José Aires de Castro Filho, Profa. Ms. Priscila Barros David e Profa. Ms. Silvania Maria Maia